terça-feira, 28 de abril de 2020

Os efeitos do café na quarentena

Ilustração: Luck Murídeo
Pego minha caneca no armário da cozinha.  O cheiro do café fresquinho me consome ao ponto de me dar água na boca.  Vou até a cafeteira e retiro sua jarra. Coloco em minha caneca café. Adoço suavemente para não estragar o gosto do café e elevo minha caneca até a boca. Durante o primeiro gole parece que a cafeína me acalma. Da janela da cozinha olho para rua. Sem nenhum movimento, não vejo as pessoas caminhando ou passando próximo de casa. Tudo está muito quieto e sombrio.  

São 6 horas da manhã e o vazio ainda toma conta da rua. Apenas para um mero e simples detalhe. Dou mais um gole no café. Agora parece que o morno do café com seu suave amargor tomam conta de mim. Meu pensamento volta a refletir para o mero e simples detalhe. A rua está vazia e sombria, mas a natureza já está na ativa. As folhas das árvores próximas da minha casa se mexem levemente. Os pássaros no céu azul e sem nuvens permanecem voando. Alguns param entre os fios de alta tensão. Outros de uma árvore a outra. Já os periquitos-verdes fazem muito barulho, eles são muitos e não devem estar de quarentena.  Consigo apenas ouvi-los, mas não observá-los. A quarentena deles é diferente.
A solidão da quarentena que me consumia desaparece. Durante o terceiro gole do bom café começo a pensar em quão grandiosa é a natureza. Somente um Deus poderia criar algo tão incrível e extraordinário que até hoje nenhum humano conseguiu copiar.

Percebi que a quarentena por mais solitária que seja é um momento de reflexões. Pra mim é observar de como somos meros coitados e mortais assustados e amedrontados.  Um simples vírus pode acabar com a vida humana de muitos. Além disso, durante a quarentena, ficando em casa é possível valorizar as coisas simples da vida como a família, a natureza e o de fazer o bem ao próximo.  Coisas que no dia a dia corrido da humanidade poucos se importavam, mas na hora da morte e da tragédia todos aprendem serem iguais uns dos outros. Essa foi minha reflexão. 

No quarto gole, sinto que o café acabou. Um carro de som com propaganda da prefeitura passa pela rua de casa e diz: “fique em casa”. Minha viagem mental me faz voltar para realidade mundial. Cuidado com o CIVID-19. Evite aglomerações. Por mais problemas econômicos que possamos ter por causa da pandemia, dinheiro a gente recupera, mas uma vida não. Largo meu minha caneca na pia. Saio da cozinha e vou passear até a sala. Sento no sofá. Ligo a Tv e conecto na Netflix. Começo a passar pelos títulos de filmes e séries. Qual o que escolher? Ainda não sei, acho que vou fazer  mais um pouco de café para saber qual efeito vai ter dessa vez.  


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