quinta-feira, 30 de abril de 2020

Uma morte anunciada

Ilustração: Luck Murídeo

Durante minha caminhada de manhã, paro na calçada em frente à praia. O sol me observa. Sei que está, pois minha pele começa a esquentar. Parece que o cheiro de mofo da minha pele começa a sair. Sinto cansaço! Não sei se é pelo isolamento social causado pela Covid-19 ou pela minha falta de exercícios físicos. Uma leve brisa do mar paira sobre mim. Parece querer minha atenção. Olho para o mar enquanto retomo o fôlego e observo sua imensidão.  Em sua solidão é possível notar pequenas ondas indo e voltando bem próximo da areia, que por sinal, aparenta estar mais limpa. Ao olhar mais distante, mesmo sem conseguir ver o fim de suas águas, noto uma piscina de água salgada, sem barcos e pessoas usufruindo dele. Solitário igual a mim nessa caminhada.

Após descansar, continuo a caminhar. A reta que pretendo seguir parece não ter fim. Mas não vou desanimar. Sigo mais alguns metros. No entanto, observo fitas amarelas e cones bloquearem a passagem em alguns trechos. Paro novamente e começo a refletir. Antigamente; não muito antigamente. Acho que não faz nem dois anos, um Deck muito lindo por sinal, foi criado nessa avenida da praia. Um madeiramento tratado, onde as pessoas poderiam correr, caminhar e ao mesmo tempo observar a imensidão do mar. Volto a caminhar em passos mais lentos. Vou pensando durante o caminho. Passei algumas vezes por ele. Via pessoas no deck fazendo suas famosas selfs, afinal tinha ficado muito lindo e outras pessoas precisavam ver um dos pontos turísticos da região norte de Caraguá. Não sei se é minha paixão por esse lugar, mas acho essa região uma das mais lindas da minha cidade.

Infelizmente o previsível aconteceu. O mar, mesmo em sua solidão e como qualquer ser humano, tem seus ataques de nervos quando invadem o que é dele, invadem sua privacidade e até mesmo por topar com uma simples pedra pelo caminho. Mas quando não respeitam o poder da natureza esse marzão também sabe a fúria que têm e rebate aqueles que o trataram com desdém. Resultado; pós-ressacas, o deck precisou ser desmontado. Depois começou a ceder e se despedaçar. Atualmente, quem passar por ele verá fitas, cones e buracos na calçada, causado pelo desrespeito e até mesmo mau planejamento na construção do Deck. 

Realmente lembro ter dito aos amigos, nas rodas de conversas que a obra por mais linda, já era ‘uma morte anunciada com nosso dinheiro’. Não sou engenheiro, mas o simples fato de vergalhões de ferro no mar? Até eu sei que a maresia destrói mais que cupim e isso não daria certo. Chuto uma pedra e sinto o sol me queimar mais minha pele. Paro de pensar. Bate um desânimo e interrompo minha caminhada. Dou meia volta. Não sei se pela preguiça ou pela feiúra do ex deck, ou sei lá como pode ser chamado hoje em dia. Sigo meu caminho de volta para casa, afinal, preciso passar no mercado, comprar pão e tomar meu café.

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