Falar
de um militante durante o período da ditadura? Não sei como começar, apenas me
sinto na obrigação de dizer o papel importante que eles tiveram nesse período. Hoje
não irei discorrer do meu eterno amigo revolucionário e pai da comunicação
alternativa, Vito Giannoti. Hoje falarei da escritora Iêda Lima que lançou sua
autobiografia intitulada, “Um olhar no retrovisor e outro na estrada”.
Durante
sua juventude, na década de 60, perante o sistema político e os problemas
enfrentados pela sociedade a transformaram em uma jovem rebelde que se somou a
tantos outros na defesa do livre pensar e se reunir com outros militantes, o
que lhe custou quase nove anos de exílio. Ao aposentar-se, aos 66 anos de
idade, resolveu contar um pouco da sua história.
E
como digo, falou de cultura e entretenimento, lembrou-se do Blog Tudo Junto e
Misturado que entrevistou a militante. É só conferir...
Tudo Junto e
Misturado - Como
é contar sua própria história?
Iêda Lima - É reviver as
mesmas emoções sentidas em cada momento relembrado e reforçar a ideia de que
compartilhar experiências e os aprendizados de uma vida inteira, incluindo os
fatos políticos que influenciaram as nossas vidas, pode ser útil para os mais
jovens, a quem lhes cabe levar adiante o bastão.
TJM - O que mais te
marcou durante a ditadura?
I.L. - A truculência e
o desrespeito ao direito de um ser humano de pensar, de se expressar, de se
reunir, de ter opiniões divergentes e de protestar.
TJM - Acredito que
vivemos em uma falsa democracia. A luta em prol da democracia deve continuar?
I.L. - Na verdade, a
nossa democracia está em crise, assim como acontece no mundo inteiro. Estamos
vivenciando uma transição entre a velha democracia, que tem como um dos pilares
institucionais um sistema político e eleitoral viciado pela frágil
representatividade, distante dos eleitores, carcomido pela corrupção e caro,
para uma democracia que reflita mais as novas relações sociais, que deixaram de
ser verticais, com partidos e sindicatos que “falavam por cada um dos seus
representados”, e que ganha uma crescente horizontalidade, que dá muito mais
poder de participação, escolha e fiscalização aos indivíduos. A internet não
somente revolucionou a comunicação, mas também atingiu, em cheio, a maneira de
fazer política.
TJM - Atualmente
temos mais revolucionários nas redes sociais do que nas ruas?
I.L. - Interpretando
os “revolucionários” como sendo pessoas que não perderam a capacidade de se
indignar e de romper com os paradigmas, eu diria que não. Temos exemplos do
Brasil, da Venezuela, da França e outros países onde os “revolucionários”
saíram às ruas quando necessário, para exigir mais ética, probidade e
competência na condução da coisa pública e respeito às liberdades democráticas.
Mas as redes sociais também tem um papel muito importante, como meios de formar
opinião e de organizar e mobilizar as pessoas.
TJM - A juventude de
hoje precisa se conscientizar mais sobre a importância das lutas do passado,
para revolucionar o futuro?
I.L. - Sim, pois eles
nasceram na democracia que já havia sido restaurada e grande parte ainda acham
que esse negócio de participação é coisa dos “tios”, aqueles que decidiram
entrar no sistema político-eleitoral por diversas motivações. Sem a
participação cidadã dos jovens, que estão esperando e cobrando serviços
públicos de qualidade, a mudança poderá ser para pior.
TJM - Vale a
pena lutarmos pelos nossos ideais?
I.L. - O que move as
mudanças – pessoais ou coletivas – é o nosso ideal ou a nossa alma. A alma é
transgressora por natureza, como diz o rabino Nilton Bonder, em “A alma
imoral”. É o ato de transgredir que nos faz evoluir como ser humano e
sociedade. Estamos em um momento no mundo em que a transgressão das próprias
convicções se tornou essencial.
Sobre a autora
Iêda Lima é de Campina Grande, mas mora em São
Paulo desde 2010. Descendente de índios Tarairús e Potiguares e mistura com
brancos Holandeses e Portugueses, Iêda Lima teve uma rica
experiência profissional, após a sua volta do exílio no Chile e Alemanha.
Formada em Economia de Transportes, pela Escola
Superior de Transportes e Comunicações de Dresden, na Alemanha, Mestre pela
Universidade Federal da Paraíba/Campina Grande e Doutora pela USP de São
Carlos, em Engenharia de Transportes, ela é autora do livro técnico “O novo e o
velho na gestão da qualidade do transporte urbano” (Bauru: EDIPRO, 1996), e
desde sua aposentadoria, em junho de 2014, dedica-se a escrever, fotografar,
formar opinião via redes sociais e curtir a família e os
amigos. Esta é sua primeira obra pessoal e destaca-se como uma
autobiografia com viés político e social que muito nos faz
refletir sobre o momento atual em que vivemos.
Serviço
Autobiografia - “Um olhar no
retrovisor e outro na estrada”
Autora - Iêda Lima
160 páginas – 14x21cm
R$ 34,90
Editora Literando & Afins
Noite de autógrafos, em quatro capitais:
Campina Grande
- 17 de agosto, quinta-feira, na livraria Espaço da Cultura, a partir das 17h30
Recife - 24 de
agosto, quinta-feira, na Livraria Cultura do Paço Alfândega, a partir das 18h
Brasília - 31 de
agosto, quinta-feira, na Livraria Cultura do Shopping Iguatemi, a partir das
18h
Fortaleza – 23
de novembro, quarta-feira, na Livraria Cultura do Shopping Varanda Mall, a
partir das 18h
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