terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

TERRA DAS MULHERES – LIVRO FEMINISTA OU NÃO?

É minha primeira participação aqui no “Tudo Junto e Misturado” e escolhi falar sobre uma obra literária de 1915, da autora Charllote Perkins Gilman – TERRA DAS MULHERES – é um livro com 255 páginas e contém 12 capítulos. Sua leitura é bem acessível, apesar de conter alguns vocábulos antigos.
O livro com certeza é feminista, afinal o livro traz a masculinidade como sendo tóxica as mulheres, retrata a depreciação da capacidade das mulheres, a violência psicológica, física e sexual e a divisão na criação dos filhos. A obra é composta por 3 amigos – Terry, o machistão, Jeff, o cavalheiro, e Vandyck aquele que acredita em fatos, o “meio termo” deles -, a autora é tão ousada que a obra é uma narrativa em primeira pessoa, ou seja, ela é o Vandyck que conta toda a história sob ótica masculina.

 Os três amigos saíram em expedição científica e se depararam com a lenda da “Terra das Mulheres” contada por um guia “selvagem”. Claro que eles resolvem verificar se há uma sociedade sem homens e já imaginavam uma sociedade primitiva e que os homens deviam estar presos em algum lugar ou que apenas faziam visitas para que as mulheres reproduzissem. Uma coisa eles tinham certeza, não tinha como não ter participação de homens! No entanto quando chegam até a “Terra das Mulheres”, são surpreendidos com a infraestrutura do local, a organização social, os avanços econômicos, o controle da taxa de natalidade e mortalidade, a segurança nacional e outros. Contudo, Terry, - o machistão- a todo tempo fala que aquilo é impossível sem homens e que eles devem estar em outra região escondidos.

A trama desenvolve mostrando os três amigos como prisioneiros da “Terra das Mulheres”, mas com dignidade humana, afinal, eles podem estudar, comer de tudo, tem roupas confortáveis e camas macias, o que provavelmente não aconteceria com prisioneiros que fossem pegos invadindo outro país de cultura patriarcal! Eles tinham as guias – Somel, Moadine e Zava- que os orientavam para aprenderem tudo sobre a Terra das Mulheres, mas em contrapartida também tinham que ensinar sobre o país deles. E a partir daí a obra relata todo o espanto das mulheres da “Terra da Mulheres” em saber que as mulheres do país deles não podem trabalhar, fazer força, tem que se submeter ao sexo com seus maridos para satisfazê-los e não para gerar vidas, que são responsáveis pela criação dos filhos e organização do lar, que algumas fazem aborto e tudo mais.

Não poderia faltar romance na obra, que com certeza foi o ponto chave para demonstrar toda a relação que causa a intoxicação da masculinidade na mulher, bem como também demonstrar que educação social pode modificar pensamentos e atitudes machistas como no caso de Jeff e Vandyck, que se casaram com mulheres – Cellis e Ellador-  da “Terra das Mulheres!
Vejamos que Terry também casou-se com uma mulher – Alima -  e não teve muito sucesso, já que sua intenção sempre foi dominá-la e quando realmente tenta fazer isso forçando-a ao ato sexual, ele é dominando por ela e por outras mulheres e se torna prisioneiro até o dia do julgamento.  Quando sai sua sentença, Terry é expulso da “Terra das Mulheres”. Vejamos que Terry é o personagem que demonstra o quão o machismo é devastador, mostra ainda que naquela época já havia na “Terra das Mulheres” sentença – punição – para quem violentasse as mulheres.

A autora foi um gênio para sua época nos movimentos feministas, porém, tanto naquela época como hoje, acredito eu, existe críticas a obra, como por exemplo na questão do aborto, a qual na “Terra das Mulheres” era um absurdo por fim a vida de um nascituro, pois, existem meios de evitar uma gravidez e caso ela ocorra deveria ter o filho e se não possuísse condições maternal deveria ser dado a sociedade que tem mães que podem cuidar, amar e educar, ou seja, na nossa sociedade podemos dizer que caso engravide dê seu filho para adoção!  Outro fator que pode ser questionado é que na “Terra das Mulheres”, mulheres não tinham sexo, e quando Ellador, Cellis e Alima ficam com os três amigos – Vandyck, Jeff e Terry – elas não querem ter sexo, porque para elas é uma questão apenas de reprodução e que o amor, felicidade e prazer podem ser encontrados de outra forma. Ora, e nossa liberdade sexual? Nós não podemos sentir prazer sexual para qual o nosso corpo é feito? Podemos dar um desconto para a Charllote, afinal para aquela época ela já havia se ousado demais em criticar um sistema patriarcal e religioso. 

Eu diria até que Charllote influenciou o criador da Mulher Maravilha a criar Themyscira em 1940, seja através de seu livro ou por força maior. Ainda posso sugerir que as mulheres da “Terra das Mulheres” são dotadas das mesmas bases fundamentais das Amazonas de “Themyscira”: compaixão, amor maternal e temperança. Mas, ainda tenho dúvidas! Será que Charllote Perkins Gilman sabia quem em 1539, em expedições Francisco de Orellana e Frei Gaspar partiram para conquistar Eldorado e teve notícias que descendo o rio Orellana existia cerca de setenta tribos só de mulheres, as iacamiabas, “mulheres sem maridos” – na língua indígena - com características bem semelhantes ao de seu livro? Será que teve inspiração nessa história do tempo ou apenas no que observava em seu cotidiano?

Paula Fernandes Pereira
Bacharel em Direito
Colunista: JornalMassaguaçu
Youtuber: Uma amigasua
Twitter: @PaulaFpblog

Um comentário:

  1. Oi Paula!
    Bem vinda ao TJM.
    Já começou arrasando com a sua resenha. Fiquei com muita vontade de ler o livro e ver todo o seu desfecho.
    Espero poder vê-la mais vezes por aqui.

    Beijos

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