Por Regis Thiago
Muitos dizem que ler um bom livro nos
ajuda a sonhar e nos leva a lugares que talvez almejamos ir. Eu realmente
concordo que ler é algo magnifico, e em minha opinião, ler te liberta. Pensando nisso, batemos um papo com o
jornalista e escritor Sérgio Túlio Caldas*, sobre seu livro “Com os pés na
África”, novo lançamento da Editora Moderna. A obra revela o continente
africano a partir de um ponto de vista privilegiado, onde o autor mergulha em
suas próprias experiências e aventuras pela região para dar voz ao personagem Túlio.
Ao explorar lugares desconhecidos, conhecer pessoas com valores diferentes dos
seus e encarar riscos de viagens, Túlio se torna uma importante testemunha dos
tempos atuais da África.
O que mais me
chamou atenção nesta obra é sua
linguagem. A obra mescla textos literários, observação
jornalística e quadrinhos. Além de uma importante inovação que extrapola o
objeto do livro. O leitor, por meio de links e do aplicativo QR Code, tem
acesso a vídeos e áudios que enriquecem ainda mais a leitura.
Confira abaixo o
que conversamos com esse grande escritor sobre escrever um livro, viajar, ler e
claro, sobre a linguagem utilizada em sua mais nova obra.
Tudo Junto e
Misturado - De onde surgiu a ideia de escrever um livro sobre a África?
Sérgio Túlio Caldas - O desejo, ou a ideia de um livro, surgem
invariavelmente na estrada. Isto no meu caso. É quando estou distante de casa, longe de minhas
referências culturais e pessoais, especialmente diante do novo, que nascem e
amadurecem a ideia de registrar minhas experiências e meu olhar sobre o mundo
que desconheço. E isso me motiva muito, pois acho que acabo escrevendo para
aprender.
No caso da África, além de viagens ao continente, vivi um ano em Angola,
dirigindo um programa de TV exibido em uma emissora local, a TPA. A experiência
foi intensa: viver, experimentar a rotina diária de um país africano, conviver
e trabalhar com profissionais africanos, frequentar os mesmos lugares que a
gente local, sofrer as privações normais do dia a dia – trânsito caótico, falta
de energia elétrica, falta de água, dificuldades com problemas de saúde,
inflação e preços abusivos. Toda essa experiência adquirida e sentida no
dia-a-dia, os amigos que eu ia fazendo aos poucos, as viagens pelo interior do
país, as descobertas culturais, as aventuras, os perrengues, os estudos da
África, tinha que ser passada para o papel. Fui aprendendo muito, acrescentando
e somando tantas informações sobre o continente africano – e ainda com o
privilégio de estar ali – que eu sabia que tudo aquilo se transformaria em um
livro.
Foto: Divulgação |
Durante minha estada na África, fiz várias anotações. Quando viajei para o
Marrocos e o deserto do Saara, escrevi reportagens. Mas muitas histórias eu
tinha guardado, não as tinha publicado. Muito do que vivi, aprendi, foram parar
nas páginas do “Com os Pés na África”, da editora Moderna. Considero ser o
livro uma contribuição para entendermos um pouco desse continente, tão vasto,
tão rico, e muito pouco conhecidos por todos nós – apesar da herança genética e
da proximidade cultural e histórica que guardamos com os africanos.
T.J.M. - Sou jornalista e
acredito que o sonho da grande maioria é viajar pelo mundo. Por qual motivo em sua história
Túlio ganha uma viagem ao mundo?
S.T.C. - Para todo
jornalista, escritor, documentarista, ou profissionais da comunicação em geral,
viajar o mundo para adquirir referências é essencial. Sejam elas referências profissionais,
culturais ou espirituais. Quando se vai para lugares que não estão nos
panfletos das agências de turismo, exercita-se o olhar humanista, a compreensão
do mundo e das pessoas comuns.
O meu personagem Túlio, é um tanto de mim. Um cara curioso, ávido por conhecer
pessoas e culturas. Túlio é essencialmente um jovem sem preconceitos, de alma e
espíritos abertos, que quer ver o mundo, ouvir as pessoas. Ele quer,
especialmente, ouvir, saber das pessoas sem julgar.
A forma que
encontrei para o Túlio ganhar o mundo, já que ele é um jovem sem grana como a
maioria de todos os brasileiros, foi fazê-lo participar de um programa
de quiz na TV, cujo primeiro prêmio era uma volta ao mundo. O interessante é que ele nunca
sabe previamente para onde vai viajar. É como um game. Ele descobre o destino
de sua viagem algumas horas antes de embarcar, via WhatsApp, e assim é
estimulado a pesquisar a fundo – e rapidamente – sobre o local onde irá
desembarcar. “Com os Pés na África” é primeiro livro de uma série bat izada de
“Giro”. Este primeiro livro se passa na África. O próximo ainda é um segredo, o
Túlio nem imagina para onde vai voar... O bacana é que os livros serão
independentes, o leitor poderá ler em qualquer ordem, independente das outras
publicações.
Há outra curiosidade nessa história. Todas as situações, os personagens e
lugares visitados pelo personagem não são frutos da ficção, mas da vida real.
São passagens das minhas experiências pessoais pela África. No fundo é uma
grande reportagem, escrita com liberdade editorial e de linguagem. Uma literatura de
viagem em sua essência.
T.J.M. - O livro "Com os
pés na África” tem uma linguagem mais moderna, une texto, foto, quadrinhos e o
aplicativo QR. Qual
seu objetivo?
S.T.C. - A linguagem nunca
foi tão dinâmica quanto é hoje. E certamente vai continuar progredindo, ancorada principalmente no
avanço da tecnologia. As pessoas vão, mais do que assimilando as novas
linguagens, adaptando sua forma de comunicar com o outro. Hoje, uma emoção, um
desejo, um sentimento, pode ser traduzido num simples emoji enviado pelo
celular. Um signo, na verdade, que não está limitado a um grupo de amigos, de
pessoas de uma mesma cultura ou com um idioma comum – é um símbolo de
compreensão global.
O uso de linguagens diversas, de formatos diferentes de texto, é nada mais do
que recursos da comunicação que usamos no nosso dia-a-dia. Youtube, QR Code,
mensagens por celular, links, quadrinhos, literatura, fotografia, reportagens –
linguagens comuns na nossa vida que transportei para as páginas do livro. Como obra
que objetiva ser atraente para os leitores jovens, essa diversidade linguística
pode funcionar como um atrativo interessante. E precisamos motivar os jovens a
ler, termos mais leitores do que telespectadores no Brasil. Neste quesito, ainda
estamos muito atrasados diante de muitos países. Ser um país que não consome
livros, que não lê, é um atraso e tanto – o preço já estamos pagando de alguma
forma. Investir em conhecimento é o que faz a diferença não só no futuro, mas
também no presente.
T.J.M. - Visto que os
brasileiros leem em média 2 á 3 livros por ano e a tecnologia avança cada vez
mais, usar esses recursos pode ajudar os futuros leitores a pegarem gosto por
leitura?
S.T.C. - Qualquer recurso que
sirva para atrair leitores é válido. Mas é o texto bem escrito, claro, compreensível, divertido, atraente,
rico em informações é que vai criar novos leitores e, espera-se, também bons
escritores.
*Sobre o autor
Sérgio Túlio Caldas é
jornalista, escritor, diretor de TV e roteirista. Viajante
contumaz, ora por meio do trabalho, ora por pura curtição, tem pegado estrada
das Américas à Ásia para escrever, fazer reportagens e filmar. Trabalhou para
importantes veículos de comunicação do País, como o jornal O Estado de S.Paulo,
revistas Veja e Os Caminhos da Terra, TVs Gazeta e Record. Tem roteirizado e
dirigido documentários e séries para o canal National Geographic, e para tvs
públicas brasileiras. Para o NatGeo, entre outros programas, escreveu a série
de 10 episódios “Nos Caminhos de Che”, e dirigiu o seriado, também de 10
episódios “Parques de São Paulo”. Na África, por onde viajou e morou durante um
ano, dirigiu um programa de jornalismo e entretenimento exibido na TV Pública
de Angola, TPA). Autor de vários livros, como Nas Fronteiras do Islã
(Editora Record), Café/Um Grão de História (Dialeto) Sérgio Túlio Caldas publicou
pela Moderna Terra sob Pressão – A vida na era do aquecimento global,
finalista do Prêmio Jabuti.
Com os pés na África
Autor: Sérgio Túlio Caldas
Ilustração: Fefê Torquato
Área: Não Ficção
Formato: 20,50 x 24,00 x 1,00
Número de páginas: 104
Preço sugerido: R$ 44,00
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