quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Escritor e jornalista Sérgio Túlio Caldas fala sobre seu mais novo livro, “Com os pés na África”







Por Regis Thiago 

Muitos dizem que ler um bom livro nos ajuda a sonhar e nos leva a lugares que talvez almejamos ir. Eu realmente concordo que ler é algo magnifico, e em minha opinião, ler te liberta. Pensando nisso, batemos um papo com o jornalista e escritor Sérgio Túlio Caldas*, sobre seu livro “Com os pés na África”, novo lançamento da Editora Moderna. A obra revela o continente africano a partir de um ponto de vista privilegiado, onde o autor mergulha em suas próprias experiências e aventuras pela região para dar voz ao personagem Túlio. Ao explorar lugares desconhecidos, conhecer pessoas com valores diferentes dos seus e encarar riscos de viagens, Túlio se torna uma importante testemunha dos tempos atuais da África.
Foto: Divulgação

O que mais me chamou  atenção nesta obra é sua linguagem. A obra mescla textos literários, observação jornalística e quadrinhos. Além de uma importante inovação que extrapola o objeto do livro. O leitor, por meio de links e do aplicativo QR Code, tem acesso a vídeos e áudios que enriquecem ainda mais a leitura.
Confira abaixo o que conversamos com esse grande escritor sobre escrever um livro, viajar, ler e claro, sobre a linguagem utilizada em sua mais nova obra.

Tudo Junto e Misturado - De onde surgiu a ideia de escrever um livro sobre a África?

Sérgio Túlio Caldas - O desejo, ou a ideia de um livro, surgem invariavelmente na estrada. Isto no meu caso. É quando estou distante de casa, longe de minhas referências culturais e pessoais, especialmente diante do novo, que nascem e amadurecem a ideia de registrar minhas experiências e meu olhar sobre o mundo que desconheço. E isso me motiva muito, pois acho que acabo escrevendo para aprender.



No caso da África, além de viagens ao continente, vivi um ano em Angola, dirigindo um programa de TV exibido em uma emissora local, a TPA. A experiência foi intensa: viver, experimentar a rotina diária de um país africano, conviver e trabalhar com profissionais africanos, frequentar os mesmos lugares que a gente local, sofrer as privações normais do dia a dia – trânsito caótico, falta de energia elétrica, falta de água, dificuldades com problemas de saúde, inflação e preços abusivos. Toda essa experiência adquirida e sentida no dia-a-dia, os amigos que eu ia fazendo aos poucos, as viagens pelo interior do país, as descobertas culturais, as aventuras, os perrengues, os estudos da África, tinha que ser passada para o papel. Fui aprendendo muito, acrescentando e somando tantas informações sobre o continente africano – e ainda com o privilégio de estar ali – que eu sabia que tudo aquilo se transformaria em um livro.
Foto: Divulgação


Durante minha estada na África, fiz várias anotações. Quando viajei para o Marrocos e o deserto do Saara, escrevi reportagens. Mas muitas histórias eu tinha guardado, não as tinha publicado. Muito do que vivi, aprendi, foram parar nas páginas do “Com os Pés na África”, da editora Moderna. Considero ser o livro uma contribuição para entendermos um pouco desse continente, tão vasto, tão rico, e muito pouco conhecidos por todos nós – apesar da herança genética e da proximidade cultural e histórica que guardamos com os africanos.

T.J.M. - Sou jornalista e acredito que o sonho da grande maioria é viajar pelo mundo. Por qual motivo em sua história Túlio ganha uma viagem ao mundo? 


S.T.C. - Para todo jornalista, escritor, documentarista, ou profissionais da comunicação em geral, viajar o mundo para adquirir referências é essencial. Sejam elas referências profissionais, culturais ou espirituais. Quando se vai para lugares que não estão nos panfletos das agências de turismo, exercita-se o olhar humanista, a compreensão do mundo e das pessoas comuns.

O meu personagem Túlio, é um tanto de mim. Um cara curioso, ávido por conhecer pessoas e culturas. Túlio é essencialmente um jovem sem preconceitos, de alma e espíritos abertos, que quer ver o mundo, ouvir as pessoas. Ele quer, especialmente, ouvir, saber das pessoas sem julgar. 

A forma que encontrei para o Túlio ganhar o mundo, já que ele é um jovem sem grana como a maioria de todos os brasileiros, foi fazê-lo participar de um programa de quiz na TV, cujo primeiro prêmio era uma volta ao mundo. O interessante é que ele nunca sabe previamente para onde vai viajar. É como um game. Ele descobre o destino de sua viagem algumas horas antes de embarcar, via WhatsApp, e assim é estimulado a pesquisar a fundo – e rapidamente – sobre o local onde irá desembarcar. “Com os Pés na África” é primeiro livro de uma série bat izada de “Giro”. Este primeiro livro se passa na África. O próximo ainda é um segredo, o Túlio nem imagina para onde vai voar... O bacana é que os livros serão independentes, o leitor poderá ler em qualquer ordem, independente das outras publicações.



Há outra curiosidade nessa história. Todas as situações, os personagens e lugares visitados pelo personagem não são frutos da ficção, mas da vida real. São passagens das minhas experiências pessoais pela África. No fundo é uma grande reportagem, escrita com liberdade editorial e de linguagem. Uma literatura de viagem em sua essência.
Foto: Divulgação

T.J.M. - O livro "Com os pés na África” tem uma linguagem mais moderna, une texto, foto, quadrinhos e o aplicativo QR. Qual seu objetivo? 

S.T.C. - A linguagem nunca foi tão dinâmica quanto é hoje. E certamente vai continuar progredindo, ancorada principalmente no avanço da tecnologia. As pessoas vão, mais do que assimilando as novas linguagens, adaptando sua forma de comunicar com o outro. Hoje, uma emoção, um desejo, um sentimento, pode ser traduzido num simples emoji enviado pelo celular. Um signo, na verdade, que não está limitado a um grupo de amigos, de pessoas de uma mesma cultura ou com um idioma comum – é um símbolo de compreensão global.  



O uso de linguagens diversas, de formatos diferentes de texto, é nada mais do que recursos da comunicação que usamos no nosso dia-a-dia. Youtube, QR Code, mensagens por celular, links, quadrinhos, literatura, fotografia, reportagens – linguagens comuns na nossa vida que transportei para as páginas do livro. Como obra que objetiva ser atraente para os leitores jovens, essa diversidade linguística pode funcionar como um atrativo interessante. E precisamos motivar os jovens a ler, termos mais leitores do que telespectadores no Brasil. Neste quesito, ainda estamos muito atrasados diante de muitos países. Ser um país que não consome livros, que não lê, é um atraso e tanto – o preço já estamos pagando de alguma forma. Investir em conhecimento é o que faz a diferença não só no futuro, mas também no presente.

T.J.M. - Visto que os brasileiros leem em média 2 á 3 livros por ano e a tecnologia avança cada vez mais, usar esses recursos pode ajudar os futuros leitores a pegarem gosto por leitura?

S.T.C. - Qualquer recurso que sirva para atrair leitores é válido. Mas é o texto bem escrito, claro, compreensível, divertido, atraente, rico em informações é que vai criar novos leitores e, espera-se, também bons escritores.




*Sobre o autor

Sérgio Túlio Caldas é jornalista, escritor, diretor de TV e roteirista. Viajante contumaz, ora por meio do trabalho, ora por pura curtição, tem pegado estrada das Américas à Ásia para escrever, fazer reportagens e filmar. Trabalhou para importantes veículos de comunicação do País, como o jornal O Estado de S.Paulo, revistas Veja e Os Caminhos da Terra, TVs Gazeta e Record. Tem roteirizado e dirigido documentários e séries para o canal National Geographic, e para tvs públicas brasileiras. Para o NatGeo, entre outros programas, escreveu a série de 10 episódios “Nos Caminhos de Che”, e dirigiu o seriado, também de 10 episódios “Parques de São Paulo”. Na África, por onde viajou e morou durante um ano, dirigiu um programa de jornalismo e entretenimento exibido na TV Pública de Angola, TPA). Autor de vários livros, como Nas Fronteiras do Islã (Editora Record), Café/Um Grão de História (Dialeto) Sérgio Túlio Caldas publicou pela Moderna Terra sob Pressão – A vida na era do aquecimento global, finalista do Prêmio Jabuti.


Informações técnicas


Com os pés na África
Autor: Sérgio Túlio Caldas
Ilustração: Fefê Torquato
Área: Não Ficção
Formato: 20,50 x 24,00 x 1,00
Número de páginas: 104
Preço sugerido: R$ 44,00


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