Por Regis Thiago
Jornalista, historiadora e atual coordenadora do
Núcleo Piratininga de Comunicação, no Rio de Janeiro,Claudia Santiago Giannotti
fala sobre a mídia brasileira na atualidade. Durante sua história de muita luta
ao lado do seu companheiro Vito Giannotti, segue com o objetivo de
incentivar e melhorar a comunicação de movimentos sociais, populares e
sindicatos.
T.J.M. - O
conjunto de eventos ocorridos em 31 de março de 1964 no Brasil, culminaram no
dia 1 de abril de 1964 em um golpe militar. Você acredita que hoje, a grande
mídia continua mascarando informações e apoiando o governo?
Claudia Santiago - Sim. Acredito que a grande mídia
continua mascarando informações. No momento ela não defende o governo, ela
ataca. Ela tenta derrubar. A grande mídia é parte do bloco de poder. No Brasil,
não é sequer republicana no sentido de ser isenta e buscar o bem comum. Não é
querer neutralidade. Um meio de comunicação pode não ser neutro, ter um lado,
desde que ele deixe isso claro. Nossa imprensa se diz neutra e não é, então faz
um jogo sujo. O Jornal como O Globo, por exemplo, seria legítimo se se
assumisse como um veículo de comunicação das classes dominante. A veja seria
legítima se se apresentasse como uma revista da extrema direita. Mas, não. Eles
vendem gato por lebre. Não reportam os fatos. Fazem o que bem entendem com a
notícia.
T.J.M. - Na época da ditadura, vários jornais
alternativos surgiram para combater a mídia hegemônica. Com o avanço da
tecnologia e o bombardeio de informações diárias, como a comunicação
alternativa deve ser trabalhada?
C.S. - Essa
é uma discussão que ainda vai levar tempo até entendermos realmente o que
significa a comunicação pelas redes sociais. A comunicação da Internet. O que
importa é que a necessidade de jornais alternativos continua existindo. Tem me
chamado a atenção para o nascimento de jornais impressos em favelas, o que
mostra que as pessoas não querem ficar só nas redes sociais. Por outro lado,
mesmo nas favelas, surge uma série de mídias alternativas pela internet.
Assim como grupos de jornalistas se organizam para trabalhar a partir de sites
na Internet. Por enquanto, o melhor é seguirmos a receita do mestre Vito
Giannotti. Investirmos na comunicação impressa, no rádio e na internet. Sem
desistir da televisão, é claro.
T.J.M. - Pesquisas mostram que Jornal Luta
Sindical tinha um papel educativo e combativo politicamente a favor dos trabalhadores.
Hoje em dia, como você analisa o papel da imprensa alternativa?
C.S. - Tem de tudo. Diria que a comunicação
sindical ainda é muito pautada apenas pelas questões coorporativas; a mídia
popular, depois de muito tempo inexistente, ainda busca um jeito seu e a
comunicação alternativa seja o Brasil de Fato e algumas iniciativas na
Internet, como a revista Fórum e o próprio boletim do Núcleo Piratininga de
Comunicação, cumprem um papel que vai além do papel de um jornal. Cumprem um
papel educativo.
T.J.M. - Há
grandes indícios de que o jornal impresso possa acabar. Quais suas perspectivas
para o futuro da comunicação?
C.S. - Hum!!!! Você me pegou. Como é mesmo
que diz a Glória Pires? "Não tenho condições de opinar". Eu não leio
mais jornal impresso, mas não porque prefira a Internet, mas porque não aceito
as omissões, distorções e manipulações dos jornalões. Não vou pagar para ler
editorial de O Globo pedindo golpe. Mas e adoraria ter um bom jornal, com
notícias bem apuradas, bem escritas, organizadas por editorias. Gostaria de
continuar contando com o trabalho dos jornalistas, mas do jeito que estão os
jornais brasileiros, melhor ir buscar na Internet. É aí o leitor faz o trabalho
do jornalista. Apura, seleciona, faz uma síntese. Se continuar assim vai ficar
como os bancos. Não precisa mais de bancário, a automação tomou conta. E nós
viramos funcionários não remunerados dos bancos. Fazemos depósitos, sacamos,
pagamos contas.
Eu gostaria de
ler um jornal diário no qual eu confiasse, como leio o Brasil de Fato toda
semana. Mas jornal é diário. Dia em francês em jour. Jornal em francês é
journal. Em espanhol é diário. Em inglês é news (novidade).
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